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O Departamento das Nações Unidas para Redução do Risco de Desastres (antigo UNISDR, atual UNDRR) elaborou guias de como transformar “palavras em ações” quando falamos de gestão de riscos de desastres. Um dos tópicos abordados é o impacto econômico direto e indireto dos desastres naturais. Dividimos esse tópico do guia em duas partes devido sua extensão. A primeira parte você encontra aqui.
Avaliação de impactos econômicos após desastres
A avaliação de impactos econômicos decorrentes de um evento deve contar com análises quanto a disponibilidade de recursos financeiros e não financeiros, além do percurso a ser caminhado para a recuperação e eventuais problemas e imprevistos nesse caminho.
Imprevistos e efeito cascata
Como vimos na primeira parte deste artigo, uma avaliação de vulnerabilidades econômicas regionais únicas também deve examinar as ligações entre as regiões e como os impactos em uma região podem ser repassadas para outras regiões.
Imprevistos são muito prováveis em relações econômicas que envolvem cadeias de suprimento mais longas. Nessas cadeias pode haver cortes, bloqueios ou falta de insumos e recursos para que haja continuidade na produção durante esses momentos de perdas imediatas e a maior prazo. Isso pode ocorrer tanto apenas para alguns elos das cadeias como para em sua totalidade.
Para que a economia funcione bem, a infra-estrutura vital (água, eletricidade, transporte, comunicação), além do efeito direto sobre o bem-estar da comunidade, é especialmente importante. Sem proteção a essa infra-estrutura, mesmo que não haja danos diretos à população, a economia e, portanto, a empregabilidade e rendimentos da comunidade,vão apresentar queda.
Vulnerabilidades no dia a dia da população são amplificadores para outras vulnerabilidades e seu papel deve ser enfatizado na avaliação de risco. Deve-se avaliar quanto tempo levaria para restabelecer as necessidades diárias após um desastre, e como se pode eliminar ou reduzir o período de desconexão.
Restrição financeira
A avaliação de riscos também precisa considerar uma avaliação realista da quantidade de recursos que estarão disponíveis durante cada da recuperação e reconstrução.
Também é recomendado planejar como e onde se pode buscar recursos adicionas, financeiros ou não. Dadas as restrições de recursos, planos de ação devem avaliar como otimizar da melhor forma os recursos existentes.
Embora os recursos financeiros sejam apenas alguns dos insumos necessários para a recuperação, eles têm um impacto significativo sobre as trajetórias de recuperação, uma vez que esses recursos podem reduzir as consequências a médio e longo prazo de setores afetados, tanto familiares quanto governamentais.
Pensando justamente nas dificuldades financeiras, existem alternativas formais e informais que podem ser empregadas pela população e por governos.
Programas de poupança e crédito ou assistências governamentais, são alguns exemplos. Ainda, podem ser realizados arranjos pré-evento, como financiamentos de risco.
Muitos países criaram fundos internacionais, nacionais e regionais de catástrofe, geralmente algum tipo de seguro baseado no mercado, em níveis variados de cobertura e envolvimento do setor público.
Qualquer avaliação de opções para alternativas financeiras com risco devem incluir uma avaliação de quem terá que lidar com esses riscos e onde esses ricos estarão (no país ou fora dele).
Outras opções de financiamento de riscos podem incluir acordos multilaterais com organizações e outros países.
Outras restrições
A capacidade de acessar recursos e conhecimento, não apenas financeiros, é igualmente importante, especialmente para a fase de emergência, que envolverá uma avaliação dos tipos de ativos que podem ser necessários.
Compartilhar experiências é importante para a definição de, por exemplo, meios de transporte para evacuações, onde eles estão localizados e como eles podem ser acessados. Avaliação dos melhores sistemas de alerta e suas melhores práticas também é um conhecimento a ser compartilhado e podem ser usados para mover pessoas do caminho do desastre.
Sendo assim, a restrição à estudos e pesquisas científicas pode ser um fator determinante na resposta e reconstrução local.
Outro ponto importante é a restrições de outros tipos recursos, como mão de obra e insumos (materiais de construção e máquinas). Isso pode também impedir uma recuperação bem-sucedida e rápida.
Finalmente, é crucial avaliar a capacidade de um governo para mobilizar e organizar recursos, de qualquer fonte, no rescaldo de um desastre. Governança e capacidade institucional desempenham um papel significativo na capacidade da economia recuperar.
O governo também deve avaliar sua própria capacidade de preparação e mobilização, mesmo nos casos em que alguns dos seus os ativos são danificados e seus funcionários são feridos em um evento de desastre.
Referência: Words into Action Guidelines