Continuando a série sobre agentes condicionantes e deflagradores de movimentos de massa, neste post será abordada a alteração climática e Pluviosidade. A introdução deste tópico está na postagem sobre Vegetação.
Estudos realizados quanto à definição dos principais agentes condicionantes que influenciam a deflagração de eventos relativos a movimentos de massa podem ser divididos em quatro grandes grupos de agentes condicionantes:
- Vegetação;
- Atividade antrópica e urbanização;
- Variações climáticas e pluviosidade;
- Características intrínsecas a encosta e ao meio físico.
Agentes condicionantes: Variações Climáticas e Pluviosidade
Para Nerilo et al. (2002), ao analisarem o regime de chuvas nos últimos anos, é evidente que o estudo das chuvas é determinante para o planejamento urbano à manutenção da qualidade do meio físico natural. As recentes variações climáticas ao redor do mundo, causadas em virtude, por exemplo, do aquecimento global, estão causando a ocorrência do aumento de eventos extremos e de tempestades com precipitações intensas. Grande parte dos eventos de movimentos de massa apresenta relação com episódios de chuva, seja de forte intensidade em curtos períodos ou de intensidades menores em períodos prolongados, normalmente concentrados em alguns meses, como evidenciado na figura abaixo.
Aumento da incidência de desastres e tempestades no mundo de 1900-2006. Fonte: Marcelino (2008)
Para Santos (2009), em relação à pluviosidade, esta seria a chave para que solos superficiais se saturem e, junto com a percolação interna da água, enfraqueça as propriedades geotécnicas do solo. Ogura e Macedo (2002) vêm ao encontro dessa afirmação ao afirmar que a chuva é o principal mecanismo deflagrador de escorregamentos em países tropicais como o Brasil, uma vez que os maiores acidentes vistos no País ocorreram no período chuvoso da região, o qual varia de uma localidade para a outra. Nesse contexto, deve-se atentar para o histórico de pluviométrico acumulado.
Citado por Azevedo (2011), Rahardjo et al. (2007) apontam que a magnitude na redução do fator de segurança de uma encosta é diretamente proporcional à grandeza e à intensidade de precipitação. Dessa maneira, quanto mais intenso o evento pluviométrico, mais rápido será o decréscimo do fator de segurança. Azevedo afirma ainda que a instabilidade do talude é favorecida quando a parcela de sucção desaparece, o que ocorre quando o solo encontra-se totalmente saturado. Isso faz com que o lençol freático gere uma poro pressão superior a zero, promovendo a redução da resistência ao cisalhamento. No Brasil, é comum, nas regiões tropicais úmidas, o aumento da incidência de movimentos de massa durante estações chuvosas, normalmente no verão. Isso se dá devido às frentes frias com origem no Círculo Polar Antártico, as quais se encontram com as massas quentes de ar da costa brasileira, resultando em chuvas intensas (Guidicini e Nieble, 1984).
Gariano e Guzzetti (2016) realizaram uma revisão sistemática com 103 estudos, publicados entre 1983 e 2016, quanto aos efeitos e consequências entre alterações climáticas e deslizamentos. Alguns achados dos autores foram os seguintes:Dikau e Schorott (1999): impossível estabelecer uma única “lei universal” ou método para analisar a relação entre deslizamentos e clima na Europa, devido à alta complexidade do problema;
Senatore et al. (2011), Collison et al. (2000) e Comegna et al. (2013): aumento da temperatura do ar aumenta a evapotranspiração da vegetação de encostas, causando um efeito positivo na estabilidade do talude, sendo necessária maior precipitação para a deflagração do evento;
Cardinalli et al. (2000), Guthrie et al. (2010): o aumento de temperatura favorece o derretimento de neve e ocorrência de eventos de chuva com neve, aumentando o runoff superficial e infiltrando mais água no solo, aumentando a poropressão e reduzindo a resistência ao cisalhamento do material da encosta. Esses fatores normalmente são esquecidos na análise de estabilidade de taludes;
Glade (2003), Sidle e Ochiai (2006), wu (2013): o aumento da temperatura pode estimular o crescimento da vegetação, contribuindo para a estabilidade do talude, além de que as raízes da vegetação aumentam a coesão. O aumento da evapotranspiração reduz a taxa de infiltração;
Sidle e Ochiai (2006), Imaizumi et al. (2015): alterações na temperatura e no regime de precipitação pode produzir ciclos de gelo-degelo seco-úmido mais frequentes, os quais podem perturbar o equilíbrio de encostas;
Crozier (2010): a duração e velocidade do vento pode alterar a evapotranspiração e, consequentemente, a umidade do solo;
Sidle e Ochiai (2006): o aumento da velocidade do vento pode alterar a posição de raízes, resultando em rachaduras e desprendendo blocos de rocha;
Imaizumi et al. (2008): deslizamentos e fluxos de detritos são influenciados pela mudança da estabilidade de taludes causado pelo ganho ou perda de força de raízes
Sidle e Ochiai (2006): o aumento na temperatura média do ar e mudanças na precipitação regional anual são os elementos climáticos cuja variação mais influencia em deslizamentos. Efeitos de alterações climáticas na vegetação, solo, uso da terra e cobertura da terra produzem interações mais complexas em analises de já difícil avaliação;
Crozier (2010): impactos das mudanças climáticas são pouco relevantes se comparados com perturbações antrópicas;
Gariano e Guzzetti (2016): a presença humana aumenta ainda mais a incerteza na avaliação de impactos nas mudanças climáticas e
Gariano e Guzzetti (2016): alterações climáticas afetam o impacto humano em paisagens naturais e ambientes socioeconômicos, o que repercute diretamente na estabilidade de taludes e deslizamentos. Por exemplo, alterações na agricultura ou práticas florestais;