Continuando a série sobre agentes condicionantes e deflagradores de movimentos de massa, neste post serão abordadas as características intrínsecas à encosta e ao meio físico. A introdução deste tópico está na postagem sobre Vegetação.
Estudos realizados quanto à definição dos principais agentes que condicionam e influenciam a deflagração de eventos relativos a movimentos de massa podem ser divididos em quatro grandes grupos de agentes condicionantes:
- Vegetação;
- Atividade antrópica e urbanização;
- Variações climáticas e pluviosidade;
- Características intrínsecas a encosta e ao meio físico.
Agentes condicionantes: características intrínsecas à encosta e ao meio físico
As características intrínsecas da encosta e do meio físico relacionam-se aos atributos naturais do material do talude e geometria do mesmo, como por exemplo, declividade da encosta, coesão e ângulo de atrito do solo, hidrologia da região e intemperismo. Em taludes naturais, a própria dinâmica da evolução da encosta pode instabilizar o talude.
Parâmetros como a topografia e declividade do relevo são influentes na distribuição espacial de eventos. Santos (2009) afirma que a partir de inclinações de 30 a 35º as encostas tendem a se mostrar mais susceptíveis e que trechos retilíneos, em geral no terço superior de morros isolados ou espigões, são mais instáveis. Lopes et al. (2011) citam que Fernandes e Amaral (2003) afirmam que escorregamentos ocorrem em declividades acima de 20º e a maior densidade de eventos ocorre entre 21º a 35º, devido à cobertura vegetal e espessuras de solos menores. Para Nott (2006), qualquer ação que torne o ângulo da encosta mais íngreme aumenta a probabilidade ao movimento ou falha da encosta.
Além do fator declividade, o formato da encosta influencia a instabilidade da mesma. Assim, encostas retilíneas tendem a apresentar maiores declividades do que as convexas, sendo são mais suscetíveis a escorregamentos. Encostas convexas normalmente apresentam a agua subterrânea mais dispersa devido ao fluxo divergente e as pressões neutras são menores que em outros locais. Já as encostas côncavas tendem a concentrar água de recarga, sendo inclinadas a apresentar elevação do nível freático e a desenvolver pressões neutras mais elevadas, são áreas preferenciais para a concentração de água, havendo uma elevação mais rápida das cargas de pressão, necessitando de menores acumulados para a ocorrência de movimentos (IPT (1994), Reneau e Dietrich, 1987 apud Vieira, 2011).
Parizzi (2011) defende que as características geológicas e geotécnicas de solos e rochas são fundamentais para a deflagração de movimentos de massa. Filitos alterados e depósitos superficiais como tálus e aterros são mais susceptíveis a deslizamentos. Os solos residuais de gnaisse e horizontes do solo do tipo A e B apresentam coesão aparente mais elevada, sendo um pouco mais resistentes. Assim, é preciso atenção no momento da execução de escavações, uma vez que a retirada desses horizontes pode favorecer o aparecimento do horizonte C, usualmente menos resistente. Fernandes e Amaral (1996) destacam que as feições geológicas – fraturas, falhas, foliações e descontinuidades – podem ser consideradas condicionantes. Essas estruturas geram pontos de fraqueza e locais de percolação da água, que podem acelerar o processo de desestabilização do talude. Guidicini e Nieble (1984) afirmam que a percolação irregular no interior de massas rochosas é muito maior que massas terrosas e que o processo de intemperismo no solo é diferente daquele que acontece nas rochas: no primeiro, a alteração pode resultar no adensamento ou cimentação secundária do solo, aumentando sua resistência; no segundo, provoca alteração nas propriedades do material, reduzindo parâmetros de resistência do maciço e sua estabilidade.
Azevedo (2009) cita Aristizábal et al. (2010) e Hengxing et al (2003), onde os autores explicam que quando da ocorrência de períodos chuvosos, as encostas com baixo coeficiente de permeabilidade (inferiores o iguais a 10-6 m/s) e formadas por solos homogêneos resistem melhor a chuvas de curta duração (menos de 24h), independente de sua intensidade, em oposição às chuvas de alta intensidade e curta duração que afetam de maneira determinante a estabilidade de taludes homogêneos com coeficiente de permeabilidade acima de 10-5 m/s. O tempo necessário para que a água da precipitação infiltre encostas com baixa permeabilidade é maior e a restauração do fator de segurança é muito lenta, assim a poropressão permanece em valores elevados e sua redução ocorre de maneira lenta, mesmo após o término da chuva. Diferentemente, para perfis com alta permeabilidade, a pressão nos poros decresce juntamente com a diminuição da chuva. A hidrologia da vertente e sua topografia influenciam na definição de direção de fluxo e da rede hidrográfica do local. Assim, o fluxo superficial e subsuperficial de água, quando direcionarem a mesma para locais com menor coeficiente de segurança, podem gerar planos de ruptura e ser condicionantes de instabilização